Videotape

Normalmente, isto quer dizer que a gente, comumente, falava que ia assistir um filme de alguma coisa já passada. O mais comum seria uma partida de futebol, isto, quando o nosso time ganhava, pois, pelo contrário, nos conformávamos apenas com os comentários dos colegas, visto que, sofrer duas vezes não seria nada agradável. Ocorreu-me falar dessa reprise, porque, a maioria de nós tem em alguma prateleira mental todos os capítulos vividos. E, num rompante bastante emotivo e, por que não dizer saudosista, pensei em rodar o filme de minha vida, começando quando já tinha sete anos, pelos idos de l.950 e, já estava em idade escolar. E, já na escola me vi todo pimpão ao lado de novos amigos, conhecendo os professores, foi muito cheio de surpresa e, de agradável convívio e, caprichosamente, ainda me lembro da primeira professora dona Estela da Silva e, da última dona Maria Helena Pereira e, pela nossa felicidade ela está aqui conosco, de vez em quando a vejo andando delicadamente pelas calçadas da cidade.  De repente, na própria imagem do videotape, surge uma pitadinha de tristeza, pois, vários daqueles que me foram amados na infância, muitos já passaram para o outro lado da vida e, outros estão sumidos por este mundão de Deus, sabe lá como. E, a filmagem foi passando e, aí já me vi fazendo o preparatório, o seja, o curso de admissão para entrar no ginásio. Foi aí que vi com muito carinho a figura saudosa de dona Ormezinda, grande mestra, batalhadora, convincentemente enérgica, não havia moleza para ninguém. Todavia, a gente gostava, pois recebemos uma educação de primeira linha de todos os professores de até então e, hoje somos o que somos, boa parte disso começou ali. Já lá pelos idos de 57, tivemos a maioria dos garotos da época, a grande felicidade e satisfação de ter a presença marcante entre nós, do sargento Guatimozim, aliás, que Deus o tenha. Acontece que, ele deu uma guinada de 360 graus no comportamento da garotada votuporanguense da época, formando os grupos de escoteiros e, os belíssimos campeonatos mirim de futebol. Onde, ele com muita psicologia e carinho fez-nos crescer num ambiente saudável e de muito respeito entre nós mesmos, nossos pais e, principalmente à sociedade como um todo. Obrigado sargento, o povo votuporanguense te agradece. E, filme foi indo para frente, começamos a trabalhar, a namorar e, até uns se aventuraram na formação de famílias exemplares. É óbvio, que o videotape, por ser uma história real de nossas vidas, nos trouxe momentos tristes, com o desaparecimento de muitos queridos. Eu mesmo, particularmente, perdi meu querido pai, perdi vários amigos de longa data, perdi parentes amados, enfim, é como dizem os filósofos de plantão: “a vida é assim mesmo, somos sujeitos a chuvas e trovoadas, porém, somos também afeitos às meiguices do tempo, a primavera é uma delas”. E, nesse compasso da película, chegamos também a criar a nossa família, tivemos muita graça divina ao constituí-la. Sendo que, nos momentos decisivos da existência me foi reservado a comunhão de uma esposa super gente boa e, pronta para ser a mãe de meus filhos. Daí, juntos tivemos um menino e duas meninas, que hoje são também pai e mães. Os quais nos deram de presente cinco netos lindos e maravilhosos. E, o filme continuou rodando e, foi nos mostrando claramente que nesta viagem da existência é como se estivéssemos em um trem, onde há embarques e desembarques, dando-nos alegrias nos embarques com a presença de pessoas novas e, de tristezas nos desembarques de pessoas queridas que certamente não veremos mais. E, o mais importante dessa visão é que podemos perceber que no começo temos toda a energia do mundo para correr e enfrentar os obstáculos, porém, ao passar do tempo, a máquina vai precisando de um número maior de revisões para suportar a luta e, infelizmente, muitos não percebem isso. Outra lição que nos ofereceu essa experiência do videotape é que notamos ter havido muitas oportunidades de sermos mais felizes e, não o fomos. Isto porque deixamos inexplicavelmente escapulir a chance de ajudar alguém. Devido, creio eu pela nossa forte obsessão pelo apego de coisas materiais. Agora, não dá para saber se tal atitude mesquinha de nossa parte se deve a pseuda ignorância que fazemos transparecer sobre o bem e o mal. Haja vista que, desde que nos conhecemos por gente sabemos que de tudo que temos nada levaremos, portanto… Olha amigos leitores, eu gostei muito de ter passado este filme, pois, na altura de nosso campeonato, temos necessidade de oxigenar o nosso ser. Inclusive, para remoçar e, nada mais correto do que buscarmos respostas. Às vezes, encravadas no tempo e, que agora pode ser que tenhamos o retorno dessas indagações. É bem possível que este exercício nos faça muito bem, pois, é como diz um velho ditado: “Recordar é viver duas vezes, tanto nas alegrias como nas tristezas”. Abraços para quem gosta de abraço, beijos para quem gosta de beijo e, ambos para quem gosta dos dois. Tchau.