Veracidade

Numa destas noites fresquinhas da primavera brasileira, estava assistindo a um filme na televisão, cujo mocinho, era nada mais nada menos do que “Harrison Ford”. A história era sobre os labirintos escuros da política, nos bastidores americanos, o nosso artista fazia o papel de consultor do Presidente. Determinado dia, a imprensa americana com de costumes com o maior alarde possível, destaca a prisão de um grupo terrorista, cujo um dos membros era um antigo colega de juventude do Presidente americano. O antigo colega tornara-se marginal e fazia parte de um grupo de possíveis terroristas. Diante da gravidade da situação, reuniram-se todos os auxiliares mais próximos para discutir o assunto. Uma vez que temiam que a imprensa explorasse de forma prejudicial a imagem do chefe da nação, colocando-o em situação desconfortável diante do povo. Na reunião os auxiliares começaram a discutir sobre como o presidente deveria agir diante dos questionamentos dos jornalistas, sobre sua antiga amizade com aquele marginal. As opiniões e sugestões convergiam definindo que o presidente deveria dizer que fazia muito tempo que não o via e, que não tinha na época uma amizade muito íntima com o referido colega e, procurasse logo mudar de assunto. O presidente satisfeito com desfeche final da reunião, solicitou dos auxiliares que providenciassem a pauta para a coletiva de imprensa, colocando ali os pontos mais importantes sobre o assunto, pois, certamente, queria estar preparado para a entrevista, afim de, poder dar uma boa satisfação ao povo. Todavia, antes do término da reunião, observou que um de seus assessores não havia feito nenhum comentário e, achava importante a sua posição e, perguntou-lhe: e você fulano de tal, qual é sua visão, acha que o que foi decidido está certo? O assessor (Harrison Ford), respondeu: presidente, eu acho que esta mentira vai apenas esconder uma situação da qual Vossa Excelência não vai ter condições de sustentar por muito tempo. Isto porque sempre que for abordado sobre o assunto, que não acabará, os repórteres vão estar cada vez mais afiados e conhecendo também mais da história verdadeira. Obviamente, ficarão pressionando o senhor, a ponto de provocar constrangimentos desnecessários para a imagem presidencial. Diante disso, o presidente pergunta, então o que você sugere que eu faça. O assessor diz, claramente, quando o senhor for interpelado sobre o assunto, deve dizer a verdade, ou seja: “realmente nós fomos colegas na juventude e, por sinal, tínhamos uma boa amizade e, naquele tempo ele era uma boa pessoa e um grande colega. Portanto, eu sinto muito que ele tenha se enveredado para o mau caminho e, espero sinceramente que ele seja feliz e encontre a paz.” Diante desta colocação a sala, por instante, ficou num silêncio total, quebrado pelo presidente que agradeceu a todos pela reunião, mas não disse qual posição tomaria. Na primeira aparição em público do presidente, aconteceu fatalmente aquilo que estava previsto, os jornalistas, sem exceção, fizeram a fatal pergunta, ou seja, o que o senhor tem a dizer sobre sua amizade no passado com aquele terrorista? A resposta do presidente foi exatamente aquela sugerida pelo assessor Harrison Ford: “falando que na época ele era o seu melhor amigo”. Tal resposta, deixou todos os jornalistas sem ação e, o assunto foi dado por encerrado, sem maiores comentários. Fica, bem claro e evidente, que por mais difícil seja a nossa postura diante de alguma revelação, o melhor caminho é dizer a verdade, pois, ela, certamente, sempre nos qualificará para o bem, por pior que seja o momento.

Arquimedes Neves – Nei

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