Tire um tempinho, não custa nada

Gozado, como a vida é bela e gostosa, no entanto, quase sempre a gente vai notar isto quando começamos a perdê-la. No decorrer dela a nossa expectativa está voltada única e exclusivamente para uns cem números de outras preferências, as quais, no momento apenas aparentemente nos satisfazem. Como simples detalhe de averiguação, podemos citar muitos desvios de preferências que nos fazem escravos de atividades criadas em condições adversas aos princípios da vida. Antigamente, só a título de ilustração, as moradias eram feitas e, a exigência maior dos proprietários era a existência de uma área denominada “alpendre”, construída na frente da casa. O local era lateralmente aberto e, colocavam-se cadeiras, para a família e os vizinhos, no começo da noite, depois do jantar, poder reunir-se e bater aquele papinho gostoso sem compromisso. E hoje! Tem muita gente que está lendo estas linhas e, sinceramente não sabe o que possa ser alpendre, aliás, com razão, uma vez que não existem mais residências portadoras deste cômodo. Na verdade, o que temos hoje são somente muros altos e famílias escondidas, não temos vizinhos, não temos tempo, não temos amigos, temos exatamente muitas outras coisas com que nos preocupar. A gente não tem tempo para nada, somos facilmente levados pelo turbilhão de muitas coisas que nos desviam das delícias da vida. Tem gente que o trabalho está acima de qualquer coisa, haja vista que de repente se perde algo maravilhoso e, quando se descobre, muitas das vezes, já é tarde de demais. Interessante, só para ilustrar, existe um conto popular que nos narra que certo menino já com dez anos, cresceu até aí sem que visse o pai com a freqüência que normalmente deveria ver. Ocorre que num daqueles raros momentos em que o pai estava em casa o garoto perguntou: “papai o senhor trabalha muito, está sempre muito ocupado, eu te vejo tão pouco, conversamos raramente, gostaria de lhe fazer uma pergunta, posso. O pai meio acabrunhado com aquela conversa um tanto quanto esquisita, responde: sim filho, pode perguntar. O filho pergunta: quanto o senhor ganha por hora. O pai perplexo, responde com outra pergunta: porque você quer saber. Aí, o filho responde, sabe papai é que eu estou faz um bocado de tempo ajuntando um dinheirinho e, pretendo comprar, se conseguir, pelo menos um tempinho do senhor, para poder conversar sossegado e a gente possa se conhecer melhor”. Certamente, essa colocação do filho, desmoronou toda trajetória incauta daquele pai. Sendo que naquele momento mágico, o pai descobriu que estava indo em sentido contrário, ou seja, viajando na contra mão de direção, cuja cegueira gananciosa, o impedia de ver a felicidade que estava ali pertinho, bem ao seu alcance. Tire férias de apenas um minuto e esvazie a mente de todos os medos que a povoam, jogue as preocupações no vazo sanitário e dê a descarga, se desvencilhe delas. É preciso de vez em quando descansar, relaxar os ombros rígidos, dar uns gritos, se for preciso, libertar as travas, se soltar. É certo que o mundo está muito acelerado, num ritmo alucinante. Em vista disso, precisamos nos conscientizar que o nosso ritmo é outro, portanto, é necessário dar um tempo, coordenar as nossas resistências para agüentar a caminhada. Entre meio a essas aflições todas, a dosagem do acelerador é vital, senão estaremos fadados em curto espaço de tempo a nos encontrar com os amigos dos relapsos e afobadinhos, ou seja, um câncer bem localizado, um infarto fulminante, uma batida violenta com conseqüências desastrosas, ou, na melhor das hipóteses, uma irreversível depressão. Não há dúvidas nenhuma que no mundo sempre haverá algo mais a ser feito, mas, não precisa ser tudo feito somente por você. Participe com calma e, nunca se esqueça do velho ditado popular, que diz: “Ninguém, mas, ninguém mesmo, é insubstituível”. Cuide-se, de vez em quando vá curtir, principalmente com a família e, viva a vida um dia de cada vez.