De repente me lembrei de uma piada de domínio popular onde dizia mais ou menos assim: “Próximos a um lago de água geladíssima, estava um brasileiro, um americano e um francês. Na outra margem, dois amigos conversavam. E, um falou para o outro, eu te dou 100 pratas se você conseguir fazer com que aquelas três pessoas pulem nessa água gelada. O outro, sem perder tempo, foi logo falar com os três turistas. Após algum tempo, os três pularam na água. Aí aquele que perdeu a aposta, perguntou: Tudo bem, eu te pago os 100, mas me conta como você conseguiu convencer para eles pularem? Fácil. Para o americano eu disse que era lei, para o francês, que era moda e para o brasileiro eu disse que era proibido.” Embora seja uma piada, fica claramente evidenciado que a nossa cultura nos coloca na sofrível condição de desrespeitosos das regras que na verdade são à base de sustentação de uma nação. Inclusive, no nosso caso em particular, parece até um paradoxo, pois, todos sabem que a nossa bandeira nacional, sustenta gravada em sua formação a frase célebre de “Ordem e Progresso”. Como vamos cumprir tais princípios se basicamente somos desrespeitadores das leis, haja vista que em quaisquer manifestações ou procedimentos vemos claramente o descumprimento. E, em muitos casos até de coisas banais sem importância, mesmo assim, nossa índole avessa as regras, nos arrasta sintomaticamente para tomar posição contrária ao solicitado. Convém, somente a título de ilustração, apresentar algumas situações que bem podem definir o perfil esquerdo de nossa conduta. Sem dúvida nenhuma de errar, inevitavelmente, todos os dias sabemos que neste imenso continente, morrem inocentes atropelados por motoristas embriagados. Inobstante exista lei proibindo o uso de bebida etílica durante a permanência no volante de um veículo. E, aproveitando o assunto sobre trânsito, aqui em nossa cidade temos exemplos horrorosos de transgressão. Principalmente nos lugares reservados para idosos e cadeirantes, os quais estão, na maioria das vezes, ocupados por veículos de pessoas que não se enquadram na legislação vigente. E, particularmente nesses casos, as pessoas não enquadradas, ao invés de se sentirem felizes por não precisarem deste diferencial, pelo contrário, ignoram propositadamente a sinalização. Certamente, esses tipos de pessoas são adeptos da Lei do Gerson, ou seja, querem levar vantagens em tudo, não importa como. Outro benefício colocado a disposição dos munícipes pelo Poder Público, foi o semi anel de trânsito rápido, compreendendo as ruas Bahia, Paraná e Bandeiras e, mais todas as avenidas, as quais teriam como objetivo desafogar o trânsito congestionado do centro. Todavia, como somos campeões em transgressões, o objetivo proposto foi totalmente desvirtuado, haja vista que as referidas vias viraram pistas de corrida. Tanto é verdade que algumas famílias lamentam ainda parentes que sofreram seqüelas graves ou, na pior das hipóteses, tiveram os seus próximos ceifados pela tragédia de um trânsito violento. Outro diferencial de conduta se verifica com uma freqüência constante, principalmente nos interiores dos supermercados da cidade, onde pessoas não estão nem aí pela obediência dos caixas reservados aos idosos, senhoras com crianças, gestantes, deficientes e, toda sorte de pessoas dependentes. É, aliás, uma prática muito comum e, tem a conivência dos gerentes e proprietários dos respectivos estabelecimentos, os quais se sentem impotentes diante do citado impasse, ou seja, agradar todos fregueses, mesmo os que estão errados. E, nessa atitude de Pilatos de lavar as mãos, a corda acaba sempre rompendo do lado mais frágil, não há necessidade de dizer quem é não é mesmo? Diante deste cenário semelhante à comédia de Dante, indagamos e, as leis para que servem? Resposta: para não serem cumpridas, ora bolas. Sendo que o pior de tudo é que os que não cumprem ficam ilesos, dando-se a nítida impressão de que elas só foram feitas para cumprimento daqueles que não têm defesa, ou melhor, somente para os fracos e oprimidos. Infelizmente.