Reclamação

Está chovendo muito, deste jeito vamos precisar de barcos para andar na cidade. Está fazendo muito calor e faz muito tempo que não chove, está insuportável. Trabalho muito, ganho pouco e o meu patrão não reconhece. Lá em casa tudo sou eu, mas, na hora do bem bom eles se esquecem de mim. Puxa vida, só dá doenças em mim e os outros. Pô, ovo frito outra vez. A vida está cada vez pior, gostaria de ganhar algum dinheirinho sem muito esforço. Todo mundo tem oportunidade, menos eu. As crianças não dão sossego, estou no limite. Gostaria muito de ter nascido numa casa rica. Xi lá vem bronca novamente. Todo dia é a mesma coisa, lavar, passar, fazer comida, cuidar das crianças, do maridão, que saco. Gostaria tanto de ser como ele ou como ela. Minha avó, meu avô, minha mãe, meu pai ou qualquer outro velhinho da família, dão um trabalhão, eu já não agüento mais. Meu time perdeu, outra vez.  Tenho impressão que a lista das reclamações não tem fim, cada um de nós tem uma enorme para acrescentar. Interessante, que às vezes viajamos na maionese e vamos para lugares distantes imaginando ser mais do que realmente se é e, quando acordamos a decepção murcha o nosso coração. Certa ocasião percebi que é quase uma constante a gente comparar na nossa navegação pelo inconsciente com pessoas que são sucessos, E, há casos que o pretendente ao estrelato quando se fala de determinado astro, chega a suspirar de emoção. Por oportuno, conversando sobre este assunto de que sempre queremos ser o outro ou a outra e, isto somente acontece quando o outro ou a outra são destaques. Nunca vi ninguém comentar que gostaria de ser o Reinaldo Gianechini quando o mesmo encontrava-se enfermo, pelo contrário, só ouvíamos as lamentações de coitado, que pena, alguns mais piedosos diziam, vou rezar por ele. Mas, não ouvi e creio que ninguém tenha ouvido alguém durante o período de doença do referido artista, dizer que gostaria de ser igual a ele. Desta feita, fica claramente evidenciado que as nossas reclamações, na maioria das vezes, infundadas só visam benefícios próprios e ganhos pessoais, o que, por outro lado, podem estar acima da nossa minúscula capacidade. Dia destes conversando com uma pessoa amiga, justamente fazíamos algumas comparações quanto à insatisfação reinante no meio de todos nós, haja vista que não é costume a gente olhar para trás, estamos sempre querendo mais. E, por falar sobre o assunto, veio mesmo a calhar, pois, quando olhamos para trás normalmente vemos situações angustiantes e, daí concluímos que a nossa é bem melhor. Não obstante essa constatação é certo também, que esse olhar para trás e ver algo pior, logicamente não é para a gente se acomodar, muito pelo contrário, é apenas para se  lembrar de agradecer a Deus sobre o que somos e temos. Uma vez que se a gente for pensar direitinho, dá para perceber, bem lá no nosso íntimo, que recebemos muito mais do que merecemos. Pense nisso. Na verdade faz parte da raça humana ser mesquinho, querer as coisas da maneira mais fácil, não importando se aquilo vai custar sacrifícios alheios, aliás, ao falar nisso, sempre nos lembramos do nefasto slogan do velho Gerson, que dizia: “o importante é levar vantagem”. A lei do menor esforço acaba sendo a chave mestra das reclamações, isto porque a tendência natural das pessoas está concentrada no bem estar físico e material sem nenhum tipo de sacrifício. E, enquanto se fica sonhando acordado com coisas normalmente inatingíveis, o tempo passa e você vai continuar sonhando, sem sair do lugar. É como diziam os antigos “cabeça vazia é a oficina do diabo e, está pronta para tudo, menos para o bem” Portanto, o importante na vida é procurar não sair dela como um zero a esquerda e, isso só será possível se você não estiver preocupado em ser o outro ou possuir coisas que não lutou para conquistar. Pois, Albert Einstein, há muitos anos já dizia: “ser gênio é 2% de inspiração e 98% de transpiração”, ou seja, é necessário suar a camisa para chegar lá. Portanto, mãos a obra e, pare de reclamar.