Quantos janeiros você tem?

Gozado que, de repente, nos vemos parados olhando para o tempo e, observamos que muitos janeiros já se foram. E, nós aqui estáticos, olhando para lá e para cá e, na maioria das vezes, no mesmo lugar, deparamos diante de nós uma pilha enorme de janeiros, desordenados ou ordenados, porém, todos quase esquecidos. Gente do céu, o que é que aquele monte de histórias, ora vividas com alegria, ora com tristezas, nos mostra o que viramos, se arrependidos por não ter aproveitado a vida condignamente, ou felizes, por tê-la vivido conforme os desígnios legados por Deus. Todavia, como a nossa curiosidade sempre sobrepõe a todas as outras vontades, não aguentei e me aproximei do monte. Timidamente, peguei um janeiro que poderia ser o primeiro, como o mesmo era muito leve, peguei mais uns três ou quatro, mesmo assim, não consegui me lembrar de nada quando tinha quatro janeiros. Porém, só me comparei pelas crianças de hoje, deveria ser a mesma coisa, ou seja, estavam sempre aos cuidados da mãe e, tudo girava ao seu redor. No afã de saber mais, peguei mais uns janeiros e, fiquei com sete nas mãos, daí, já foi possível lembrar do início e dos preparativos para sair de casa. Já ia para a escola pública, os futuros coleguinhas já se aproximavam, estava tudo preparado para ser um belo período, com outras perspectivas e, obviamente, outros ambientes. Estava gostando muito, principalmente das novas amizades, da primeira professora dona Estela da Silva, pessoa amabilíssima, bela figura, inteligente, senti que estávamos em boas mãos e, realmente estávamos; Na verdade, aquele período foi tudo de bom que aconteceu nesta maravilhosa época. Mas, como o tempo não para, peguei mais uns janeiros e, fiquei já nos braços com onze. Portanto, já estava saindo da escola e, partindo para novos desafios, agora íamos enfrentar outros períodos, mais outras perspectivas, já estava ficando séria a nossa caminhada. Em sendo assim, nesta sequência dos anos acumulados, me vi obrigado a pegar no monte mais uns três ou quatro janeiros, chegamos nos catorze ou quinze anos, nos vimos de repente numa época áurea, da juventude sem compromisso. Já no ginásio, com alegria maior destes momentos embora não eternos, mas infinitamente prazerosos, uma vez que tudo era alegria e prazer. Novas amizades, as namoradinhas, enfim, pareceu-nos felizmente que estávamos no paraíso, tal era o volume de coisas boas e estonteantes que rolavam entre nós. Vistos, porém, com a ótica daqueles tempos em que a malícia, o aproveitamento pessoal e, a ganância existiam, mas em grau infimamente minúsculo, tanto é verdade, que tais malefícios, pouco nos atingia, pois, nada arrebatava a felicidade que sentíamos. E, essa dança de vida e de conhecimentos ia se materializando à medida em que íamos ao monte de janeiros atrás de mais vivência. Assim sendo, com mais lote conquistado, já nos encontrávamos com mais de vinte janeiros nos braços. E, finalmente nos estagiamos no período das responsabilidades mais sérias, ou seja, união matrimonial, busca de constituição de família, surgimento de filhos e, aí a coisa foi nos pesando mais. E, vislumbrando que a luta seria titânica, não poderíamos titubear, aí estava o futuro e, só a nós caberia desvendá-lo, para Deus ou não. Enfim, com uma velocidade luz, os janeiros foram se aproximando, tornando-nos, às vezes, mais lentos devido ao peso natural da caminhada. Chegando ao ponto de não conseguirmos mais agarrar com os braços aquele monte de vida à nossa disposição durante o início da lide. Dentre todos nós, o prêmio maior que se encontra depositado no pódio de nossa existência, é olhar para trás após este empilhamento de janeiros e, ver uma vida lutada com garra e determinação, com respeito a Deus, com os seus mais queridos ao seu lado felizes, com os amigos conquistados, satisfeitos por fazerem parte de nossas vidas. É assim que deveria ser, reflitamos se valeu a pena ou não!

                                              

                                               Arquimedes Neves – Nei

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