O tempo passa e a gente não vê.

Cronologicamente falando, os idosos começam na medida em que os anos vão se avançando, olhando muito mais para trás do que para frente. Isto porque, é bem, claramente, dedutível na ótica deles de que existe muito mais vida a ser vivida e relembrada no passado do que no presente. Haja vista de que o presente está muito mais próximo do fim do que, às vezes, se possa pensar. Num livro que li a respeito, o autor tecia comentários sobre essa atitude natural das pessoas mais velhas. “Segundo ele, o velho olha muito mais para trás, porque é lá que se encontram os seus melhores momentos e os piores nem tanto”. Parece-nos que existe certa lógica nesta definição. Uma vez que, quando somos jovens a nossa disposição está sempre alerta e, pronta para vencer os obstáculos que se nos apresentam e, é fato também que quando se dificultam temos o discernimento necessário para criar novas alternativas. Todavia, na velhice essa disposição mental e física já não se faz tanto presente como antigamente. Inclusive, não há mais consonância de nosso vigor físico com os obstáculos e, quando surgem, na maioria das vezes, precisamos de ajuda para desenvolvê-los. Infelizmente, não é a toda hora que esta suposta ajuda se encontra por perto, quase sempre está quilometricamente distante. No entanto, por circunstâncias naturais que a vida nos reserva, ou seja, os idosos, invariavelmente, vão se tornando invisíveis, quase sempre ninguém os vê. Desta feita, é bem por aí, que os idosos convergem sempre seus olhares para o passado, passado este que armazena todas as passagens da vida. Onde o esforço era recompensado pelas batalhas justas, considerando que se estava a altura dos obstáculos apresentados. E, para pesar mais o desequilíbrio, estamos tendo uma avalanche rápida de mudanças, que sem sombra de dúvidas estão provocando um certo descontrole de atitudes. Sendo que, as mesmas, até para nós mais contemporâneos tem sido difícil administrar. Imaginem, isso tudo para as pessoas mais idosas! Embora, reconheçamos que no aspecto tecnológico essas mudanças são muito importantes. No entanto, pelo lado social da convivência, é de se reconhecer que as mesmas têm causados catastróficos estragos. Podemos citar apenas como exemplo a utilização indiscriminada da internet dentro dos lares, onde tem trazido sérios dissabores para manter a disciplina e a criação. Infelizmente, neste contexto todo, acabamos sendo arrastados neste turbilhão de informações, nos provocando, consequentemente, a perda de vista das nossas origens. A nossa paciência começa a se esgotar com eles, nos nossos espaços não possuem mais lugares para eles, enfim, o tempo voa e com ela a esperança bate asas também. E, é justamente por isso que os idosos voltam os seus olhos para trás, pois, para frente não existe mais nada, nenhuma perspectiva, apenas o vazio está lá, lamentavelmente, é o reflexo da solidão. Tanto é verdade, que se observarmos bem, poderemos perceber que os idosos sempre procuram para se acomodar, juntamente, com suas divagações, os cantinhos silenciosos da casa. E, é onde encontram neste cantinho protegido pelo silêncio interior, as saudades, as lembranças passadas e guardadas ternamente no fundo do coração. Embora, possa parecer um contra senso, todas essas dificuldades, parecem até um lenitivo para eles, uma vez que, dificilmente, vemos alguns deles “jogar a toalha”. Pelo contrário, a maioria idosos querem viver até o último suspiro, não importa seja este momento, apenas contemplativo ou, na pior das hipóteses, apenas vivido e desprotegido. Mesmo assim, não desistem nunca. Inobstante tudo isso, todos nós, indistintamente, caminhamos para lá, embora alguns não, pois, morrem antes. E, em assim sendo, a velhice, deveria ser bem mais velada e cuidada, pois, para se chegar até ela, são imensuráveis os percalços que se vencem. Finalmente, num alerta geral, de uma coisa é certa, colhemos o que plantamos, sendo assim, seria bem mais racional viver bem o dia de hoje, outrossim, não se esquecer de ficar de olho no dia de amanhã.