O nosso Big-Ben

Eu não tenho muita certeza, mas, se não me falha a memória já tivemos a insatisfação de ver silenciar as badaladas melodiosas do relógio da Matriz, por duas vezes, dizem que foi ordem judicial, também não sei, mas, que silenciou, silenciou. Lembro-me também que naquelas oportunidades me parece que os argumentos foram os mesmos, ou seja, incomodação do sono dos justos. Considerando o argumento apresentado, fiquei deveras incucado, uma vez que isoladamente havia mil outras razões semelhantes que são excessivamente barulhentas e, se misturam ao barulho do cotidiano, portanto, desaparecem. Aí me lembrei, sem fazer nenhum esforço, dos buzinaços dos veículos, os carros de sons de propagandas comerciais, os sons dos carros das moçadas que perambulam pela cidade a mil decibéis, os foguetórios constantes, às vezes sem motivos aparentes, as sirenes tristes dos veículos da polícia, do corpo de bombeiros, das ambulâncias, o barulho ensurdecedor das milhares de motocicletas e, outros mais. Também é certo que todo esse barulho deve somar a todos os outros barulhos próprios das zonas urbanas, pois, creio que de todas as comunidades existentes no mundo inteiro, sem exceção, não existe nenhuma silenciosa, graças a Deus. Inobstante tudo isso, para alegria geral da galera votuporanguense a questão de aproximadamente uns trinta atrás tivemos o retorno do imponente sino do relógio da Matriz e, com isso passamos a exibir ares de cidade londrina, invejada por toda a região. E, de repente, como se fosse um balde de água gelada jogada inesperadamente na cabeça de todos nós, lá vem novamente pedido para cessar as badaladas. Gente, três vezes é demais e, nos parece ser o mesmo pessoal que não consegue ter sossego com o sonoro sino. Nesta terceira investida para silenciar o carrilhão da Matriz, mereceu de minha parte uma análise mais apurada da situação. Inclusive, considerando o motivo apontado pelos incomodados, idêntico em todas as queixas, é bem possível que o motivo na verdade seja outro, pois, a alegação de incômodo pelo barulho, não se pode aceitar. Pois, é evidente que os outros barulhos existentes e, que foram devidamente enumerados, são certamente mais intensos do que os do sino da Matriz, portanto, a incomodação pelo barulho é um argumento fraco. Daí, segundo nossa ótica restou apenas dois possíveis motivos, o de conotação religiosa ou o de simplesmente querer aparecer. Contudo, creio e afirmo que o segundo motivo está fora de cogitação. Em assim sendo, lamentavelmente é índole do próprio homem criar obstáculos ou intransigências, na maioria das vezes desnecessárias, principalmente àquelas de cunho religioso, uma vez que o Deus existente é único para todos, embora haja várias seitas para adorá-Lo. Aliás, seria estupidez de minha parte, se ligasse para um estabelecimento bancário da cidade e dissesse ao gerente: “olha eu estou indo aí, por favor, mande desligar o ar condicionado central, pois, estou meio gripado e não posso tomar esse ar frio”. Se agisse assim, seria eu um egoísta sem precedentes, uma vez que estava preocupado somente comigo e, os outros como ficariam? O importante de tudo nesse episódio seria fumar o cachimbo da paz, tanto os que são contra, como os que não são, pois, todos têm direitos, porém, sempre respeitando os limites convencionais ou legais. O ideal seria que em toda situação de dificuldade, sem considerar vencidos ou vencedores, deveria prevalecer principalmente o bom senso. Sendo que essa premissa é posição própria de homens maduros e respeitosos, cujo perfil se encaixa como luva num votuporanguense de coração. E, o item mais importante dessa polêmica toda que estamos deixando de considerar é que o sino do relógio não é do padre e, muito menos da comunidade católica, ele pertence orgulhosamente a todos nós indistintamente.  Portanto, só nos resta com a felicidade daqueles que moram no Jardim do Édem,  entenda aqui como sendo a nossa querida e amada cidade, nos deliciarmos com suas harmoniosas badaladas, além de resgatar valores, possibilita e orienta o controle do horário, sendo portanto,  muito útil a população.