O calvário

Historicamente calvário significa sofrimento, aos ouvirmos a palavra automaticamente o nosso pensamento nos lembra o trajeto que Cristo fez do Átrio Romano de Jerusalém até o Monte Gólgota, onde foi crucificado.  Numa caminhada de pouco mais de dois quilômetros, sofreu as maiores torturas físicas e psicológicas que um ser humano pode suportar. Guardando as devidas proporções, o que estamos vendo nos céus e nos aeroportos brasileiros é realmente um verdadeiro calvário ou não? O pior de tudo é que esta situação perdura há mais ou menos uns dez meses e, além dos dissabores passados, somamos amargamente o desaparecimento de mais de quatrocentos e cinqüenta pessoas, o que consternou e amargurou o mundo inteiro.  Dentre esse descaso todo daqueles que deveriam zelar pelo bem estar e tranqüilidade dos cidadãos de bem, vemos inertes e impotentes o ceifamento de vidas inocentes e o calvário dos parentes e amigos daqueles que se foram muitos chorando as grandes perdas e, além disso, na maioria dos casos o desespero da não identificação dos corpos. Todos nós estamos pasmos diante das imagens daqueles que choram os seus mortos e permanecem nas filas dos IMLs na esperança do reconhecimento. Isto não é um calvário, claro que sim. E, a multidão ou milhares e milhares de pessoas que transferiram suas moradas para os aeroportos desconfortáveis, frios e totalmente sem nenhum calor humano. Quantos perderam grandes oportunidades de vida por não poderem se fazer presença em seus compromissos.  Quantos não adquiriram um stresse pela tensão própria desse ambiente macabro. Quantos depois de um ano estafante de trabalho, perderam os sonhos de férias maravilhosas, Quantos se desiludiram mais ainda com o ser humano que trata o seu semelhante como se fosse nada. Quantos adquiriram pesadelos e medos indescritíveis, tornando-se pessoas débeis, fracas e medrosas, precisando freqüentar consultórios de psiquiatras, psicólogos e tornaram-se reféns de medicações antidepressivas. Não convém enumerar os desastres aéreos e nem os desastres psicológicos provocados por esse caos, pois é certo que a situação fugiu totalmente de controle, todos nós sabemos. Não adianta ficar perdendo tempo procurando culpados, nem do governo, nem das companhias aéreas, embora sejam eles necessários serem apontados, mas não isso é o mais importante no momento, o que é preciso é resolver a situação, porque senão corre-se o risco de se amargar pesadelos reais futuramente. Nesta hora difícil, pedimos a Deus que na sua infinita bondade ilumine as consciências daqueles que detém o poder de solução, que o façam, caso contrário, o Brasil vai precisar fechar para balanço, infelizmente.