Gente, assistir as palhaçadas do Chaves, seriado cômico mexicano, dá para desopilar o fígado de graça e prazerosamente. Principalmente, quando o senhor Madruga, personagem do espetáculo, fica zangado com o Chaves e, a sua primeira reação é dar-lhe um “crok” na cabeça. Agredido, o Chaves todo choroso vai logo dizendo a frase secular: “ninguém tem paciência comigo”. Neste momento, imagino o espanto de meus queridos leitores ao deparar inicialmente com a leitura do artigo, eu falando sobre o comediante Chaves. Podem alguns pensar que esteja eu sem assunto e, em vista disso tenha tido a intenção de apenas “encher lingüiça”, como comumente dizem quando há falta de assunto. No entanto, a idéia me surgiu assim, num piscar de olhos, em observação sobre o tratamento dado às pessoas, principalmente as idosas, por ocasião de atendimentos públicos. Vendo a falta de paciência e o atropelamento nas explicações, me veio a mente a frase célebre do Chaves: “ninguém tem paciência comigo”. Interessante notar que atrás das mesas de atendimentos, na maioria das vezes, está instalado uma bela ou um belo jovem, os quais, equivocadamente imaginam que serão jovens eternamente. É bom saber também que uma grande parte dos idosos são pessoas de pouca instrução, portanto, carecem naturalmente de um entendimento melhor das coisas. Tanto é verdade que ao presenciar numa repartição pública um atendimento de uma senhora provavelmente octogenária, que levava uma imensa quantidade de papéis para liberação de remédios. E, parece que no meio deles, um dos papéis faltava uma assinatura, foi o suficiente para broquear o atendimento. A atendente, mediante aquela “gravíssima” falha, segundo conceitos dela, começou a falar termos técnicos e sobre a política de atendimento do órgão. A pobre senhora anuía com a cabeça num sinal de consentimento, porém, não estava entendendo bulhufas, uma vez que sua preocupação maior era receber a medicação. A atendente toda irritadinha e sem nenhum pingo de paciência, tentava por todos os meios passar as informações, das quais sem exagero nenhum, nem o Papa conseguiria entender. Certo é que o sentimento de paciência é sem sombras de dúvidas privilégio de poucos, haja vista que esta magnitude pertence somente aqueles que são dotados de muito amor, o que convenhamos, não são muitos. Infelizmente, este modelo de tratamento, ou seja, falta de paciência, se encontra alojado em qualquer lugar, no trabalho, no trânsito, no lar, nos estudos, nas filas, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos bancários, nos asilos e, num cem números de outras atividades. Enfim, basta ter no local um atendente de coração peludo que lá está ela, a impaciência, reinando deselegantemente, como sempre. Dia destes, em visita a um asilo, no qual, se hospedava mais ou menos uns quarenta idosos e, no bate papo com eles, perguntei o porquê de estarem ali, onde estavam suas famílias? Curiosamente, um número significativo deles, com os olhos marejados de lágrimas, coincidentemente respondeu: “ninguém tem paciência comigo”. Outro particular importante a se destacar é o atendimento bancário, onde está também reservado um caixa para atendimentos especiais. E, para fins estatísticos observei que enquanto um caixa especial atende três pessoas, o caixa normal atende sete, isto porque a lentidão dos movimentos daquela população obedece ao ciclo natural da vida, ou seja, os sentidos e os reflexos carecem da mobilidade natural das pessoas jovens. Naturalmente seguindo esse raciocínio deve-se constatar que são pessoas especiais, portanto, devem obrigatoriamente ser atendidas por agentes especiais, cujo ponto básico do atendimento, certamente, será a paciência e compreensão. Caso, contrário, estaremos sempre ouvindo unissonamente o clamor dos carentes de atenção, a frase famosa, ou seja, “ninguém tem paciência comigo”. É certo também que dentre as sete virtudes, a mais difícil de desenvolver é a paciência, todavia, dentre elas todas, se ela for desenvolvida, é a que traz mais benefícios. De sorte que a mais gloriosa apoteose de toda uma vida, com certeza, será chegar ao término dela sem ter pronunciado a frase: “ninguém tem paciência comigo”. É utopia, pode ser. É possível, pode ser. E, aí, só Deus sabe.