Mudanças

Numa constatação quase que sem querer, aliás, normalmente devido à rotina impregnada em quase todos nós, demoramos muito para perceber algo diferente ao nosso derredor. Tanto é verdade, que, às vezes, passam-se tempos enormes para que deixemos a ficha cair e, aí a gente percebe que os nossos filhos estão crescendo, ou melhor, os nossos netos. Basta, para tanto, que alguém amigo, ao ver-nos juntos, filhos e netos, apenas exclame: “nossa!!! como esses meninos estão ficando mocinhos” e, aí a gente olha e, murmura, introspectivamente, “nossa!!! é mesmo e, nós nem tínhamos percebido”. E, assim, a vida vai seguindo e, a gente volta e meia se assustando com aquilo que é óbvio. Por conseguinte, existem milhares de situações que, às vezes, nos privam de sermos abertos e felizes. A bem da verdade parece que preferimos uma vida obtusa, sem horizontes e, arredia as mudanças, estamos sempre enclausurados, agindo como se não tivéssemos condições pra enfrentar desafios. Isto dito é porque a gente percebe e, a título de curiosidade pessoal, pude constatar que entre cada dez pessoas, mais ou menos oito, ao serem abordadas sobre como estão às coisas sempre se posicionam com respostas evasivas e derrotistas. Ou seja, “vai indo mais ou menos, não sei se vou agüentar”, ou, “estou de… cheio, todo dia a mesma coisa”. Assim é que, passamos toda vida lamentando ou, por inércia, ou, por condicionamento natural do cotidiano. Em vista disso, acabamos por conseqüência, sufocando o despertar de nossas expectativas, antes mesmo de, pelo menos, tentar realizá-las. Por isso, as deixamos morrer, simplesmente, porque nos acomodamos e, propositalmente, acabamos afastando as fronteiras de nossos horizontes, não mudamos, temos medo. Por sorte, encontrei uma narração super maravilhosa do assunto em pauta e, oportunamente, aproveitando o texto chamado “Milho de Pipoca”, da jornalista Dayse Rose Ribeiro, vou retratá-lo, para certamente dar mais brilho ao assunto, como segue: “O milho de pipoca que não passa pelo fogo, continua milho para sempre. O mesmo acontece com muitas pessoas. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosa. Só que essas pessoas não se apercebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor do mundo. Na verdade são pessoas que não enxergam um palmo diante do próprio nariz. Mas de repente vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos, disso resultando alguma dor. Pode ser um fogo vindo de fora, tal como: perder um emprego, perder um filho, o pai, a mãe, um amigo, perder um amor, desagradar alguém, perder todas as suas economias, sofrer um acidente e, por aí adiante. E, pode ser um fogo de dentro mesmo: o pânico, o medo, a ansiedade, a depressão ou o sofrimento, cujas causas nós ignoramos. Para tudo isso, sempre há o recurso do remédio. Apagar o fogo. Sem o fogo queimando o sofrimento diminui. Porém, há também a possibilidade de uma grande transformação. Imagine, agora, o pobre milho fechado dentro de uma panela e lá dentro cada vez mais quente. Ele pode pensar que sua hora chegou e que vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechado em si mesmo, o milho não pode imaginar um destino diferente para si mesmo. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ele. Ele nem faz idéia daquilo que é capaz. Aí, sem qualquer aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: Pam! Pam! Pam! Ele, então, aparece com outra aparência, completamente diferente e até com outro nome. Deixou de ser milho. É, agora, a pipoca, bonita, grande, aberta para a vida, algo que nunca havia sonhado. Bem, ainda temos o chamado piruá, que é aquele milho de pipoca que se recusa a estourar. São como àquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito que elas são. E, não mudam, continuam na mesmice. A presunção e o medo formam a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o seu destino é triste, já que ficará duro e refugado a vida inteira. Deus é o fogo que amacia os nossos corações, tirando deles o que deles há de melhor. Acreditamos que, para extrairmos o melhor de dentro de nós, temos que, assim como o milho da pipoca, passar pelas provas de fogo de Deus.” E, para finalizar, acho que a maioria de nós já ouviu dizer esta expressão: “fulano é muito sistemático, isto é, é uma pessoa certinha em que tudo tem que ser de um jeito que convencionou”. Na verdade, estas pessoas são nada mais, nada menos do que o milho da pipoca que não estourou. Acho, que seria muito salutar se refletíssemos sobre isso. Abraços.