Mais médicos

Por que será que todas as medidas impostas pelo governo, além de serem sempre inoportunas, advém, na maioria das vezes, de atos implantados sobre pressão. Como é o caso da implantação a nível mundial do programa “mais médicos” para o Brasil. E, como não poderia deixar ser, a repercussão foi imediata, sendo que as previsões de inscrição passaram das expectativas imaginadas. Agora para nós pobres mortais que somos lerdos na compreensão de acontecimentos dessa natureza, embora sabemos que existem áreas do território nacional que realmente têm faltas de médicos. Para tanto é só fazer uma análise rápida na ocupação da densidade demográfica entre médicos e habitantes e, facilmente se verificará que a maior concentração de médicos acontece nas regiões sul, sudeste. Enquanto isso, as outras regiões, com evidência maior nas regiões norte e nordeste, há carência visível de médicos. Acontece que esse pode ser um dos problemas do mau atendimento, porém, a presença de médicos está bem longe de ser a solução dos problemas de saúde no país. Tanto é verdade, que todos sabemos que a saúde pública está quebrada, ou seja, como diz a boca do povo, está pior do que arroz de terceira. Então seria uma injustiça sem limite querer jogar toda a culpa da falência da Saúde Pública em cima de um único item, ou seja, a falta de médicos. Em qualquer informação jornalística é possível ver que o destaque maior recai sobre a total falta de infra-estrutura do sistema. Os atendimentos são feitos de forma precaríssima, principalmente naquelas regiões esquecidas, nordeste e adjacências. Faltam leitos e, os que existem já estão em situação de real desleixo, atendimentos feitos nos corredores dos hospitais em cima de macas e em colchões em péssimas condições de uso, faltam medicamentos e ambulâncias, salários dos profissionais e dos auxiliares baixos. A propósito, a imprensa já está anunciando algumas desistências do programa “Mais Médicos”, inclusive citamos uma ocorrida em Camaragibe/Pe, onde o médico lamentou a saída com a seguinte colocação: “É uma aberração, teto caindo, muito mofo e infiltração, uma parede que dá choque elétrico, sem ventilação no consultório, sala de vacina em lugar inapropriado, falta de medicamentos, etc…”. O assunto é tão polêmico que tudo que se falar a respeito estará sujeito a chuvas e trovoadas, ou seja, haverá sempre vozes contrárias. Aliás, já dizia tempos atrás, o soberbo jornalista, já falecido, Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”. Portanto, seria muito salutar que tais decisões sempre ficassem na balança da indecisão, haja vista que as contrariedades e adversidades feitas com convicção ajudariam sobremaneira obter resultados interessantes. Simples, normalmente toda articulação iniciada nos governos, tende sempre estar envolvida em algo um tanto quanto sinistro. Por exemplo, há interesses escusos nas jogadas, no caso em pauta “Mais Médicos”, segundo a revista Veja, o programa servirá também para carona de promoção do Ministro da Saúde, com os olhos voltados nas eleições estaduais, mais especificamente na do Estado de São Paulo. Portanto, o programa, “Mais Médicos”, o que nos parecia a princípio uma boa iniciativa, se de fato tiver mesmo o objetivo subjetivo insinuado pela revista Veja, então, por si só perde toda a credibilidade antes nele depositada. Independente de todas essas complicações políticas, técnicas e administrativas, o programa em si tem o aval popular, pois, é notório a todos que a saúde pública é a pedra no calcanhar do governo. Agora, o que não pode acontecer é fazer protestos contra os profissionais estrangeiros, uma vez que eles são os menos culpados nestas negociações todas. E, finalizando, é preciso admitir a carência de médicos, uma vez que em qualquer pesquisa de opinião é óbvio notar um destaque percentual na precariedade da saúde pública nas periferias dos grandes centros e, mais precisamente nos estados do norte e nordeste do país. Assim é que as desgraças que aumentam vertiginosamente as mazelas do povo devem ser encaradas pelos homens públicos com mais seriedade e mais responsabilidade, independente de quem as irá realizá-las. Não importa.