Quantas vezes, ao passar pelas calçadas da Rua Amazonas, nas imediações do Banco Santander, ouvimos esse grito do título acima, ou seja, “hei, me dá um real que eu te dou um halls”. Esse grito que mais parece um lamento sai da boca da Ana, deficiente físico, que não pede esmola, apenas oferece a sua mercadoria para poder subsistir, portanto, não incomoda ninguém. Interessante que ela está sempre alegre e, conversa com todo mundo, mesmo aqueles turistas que por aqui aportam, acabam ficando amigo da Ana. Vez ou outra, vencida pelo cansaço da labuta, boceja um pouquinho e, ali mesmo na calçada onde fica estacionada a sua cadeira de rodas, aproveita e puxa um pequeno cochilo. Interessante em ver aquela figura impar descansando em pleno barulho ensurdecedor das buzinas e freadas dos veículos, com a cabeça pendida ao lado, consegue como se fosse um anjo ficar em paz por alguns momentos. Outro particular interessante é que ninguém a rouba e nem a desperta, todos indistintamente respeitam aqueles momentos de devaneio daquele ser inocente. Além do mais, para quem não sabe, aquela figura é uma pessoa culta, tanto é verdade, que já escreveu alguns livros, principalmente de poesias. Algumas vezes, quando convidada ela aparece nos palcos das praças da cidade para declamar suas poesias e deleitar os presentes com muita alegria. Sabemos todos que o mundo é uma selva, portanto, cheio de ocasiões traiçoeiras, e para se vencer os obstáculos apresentados é preciso ter perseverança, fé em Deus e, principalmente não se deixar vencer ou, se abater, simplesmente, é preciso lutar. Se, a vida é difícil para nós que somos perfeitos fisicamente, imagine como deve ser esta mesma vida, para aqueles que por circunstâncias outras precisam do auxílio de equipamentos adicionais para se locomover e, da boa vontade de algumas pessoas abnegadas. É por isso que a gente quando vê uma pessoa feliz, honesta e, trabalhadeira como a Ana, independente de seus impedimentos, o melhor que podemos fazer em reconhecimento de sua bravura é aplaudi-la e admirá-la, só isso e, mais nada. Outrossim, tudo isso não quer dizer que nós diante do infausto devemos sempre nos resignar, pelo contrário, é necessário enfrentar os empecilhos e fazer aquilo que nos compete como cidadãos e cristãos, para ser antes de tudo dignos e honestos. Portanto, o exemplo belíssimo de nossa irmã Ana, é preciso ser ressaltado, pois, ao invés de se entregar e viver a mercê da piedade dos outros, resolveu dignamente lutar pelo seu espaço. Na ótica de alguns, o espaço dela pode ser minúsculo, todavia, para ela é o suficiente. Por sinal, é neste aspecto que reside à importância do ser humano, saber exatamente qual é o seu espaço a ser ocupado. Obrigado Ana, pelo modelo de pessoa que você é, e, por falar nisso, “hei, me dá um real que eu te dou um halls”.