Gente, acho que já estou me tornando invisível

Acredito que todos nós já devemos ter ouvido esta frase acima que se empresta para ser o título de nosso artigo desta semana. Muito bem, principalmente nestas épocas modernas, a evidência deste desprezo nos parece bem natural. E, o idoso sendo tratado como se fosse um estorvo, ou seja, é completamente alienado das conversas e dos ambientes em que vive. Por quase todos, principalmente pelos parentes próximos, é como se o dito cujo, fosse realmente invisível. Na verdade, é isso mesmo, pois, invisível é aquilo ou aquele que não se enxerga e, os distintos ex-desprezados, passam assim para outra categoria a de invisíveis. Uma vez que desprezado é aquilo, ou aquele, que a gente vê e não liga, não dá importância alguma, mas, vê. Ao passo que, invisível a gente não vê mesmo é como se não existisse, aliás, é uma situação muito pior do que a de desprezado, que pelo menos de vez em quando pode acontecer, mesmo que timidamente, receber um sorriso meio amarelado de outra pessoa. De repente, esta terrível constatação que começa a tomar conta da gente é muito assustadora. Pois, acreditamos que, quando você começa a sentir-se um zero a esquerda, ou melhor, sua presença é “tanto faz como tanto fez”, aí os horizontes, de fato, começam a ficar escuros. Em vista disso tudo e, considerando que a nossa vida pode ser classificada como uma roda gigante de um parque de diversão. Onde uma hora você está em cima e, em outra você está em baixo, pois, na caminhada não sabemos quais os obstáculos que teremos que enfrentar e, se teremos habilidade suficiente para fazê-lo. Considerando que, por outro lado, no decorrer dos anos vamos, naturalmente, perdendo mobilidade e, certamente, já não teremos condições físicas para fazer muitas coisas que antes fazíamos. E, em assim sendo, considerando o andar sistemático da carruagem, vamos perdendo o comando das decisões. E, então,  ficaremos a mercê de outros comandos, no caso, pode ser, filhos, outros parentes, funcionários de asilos e/ou outros de instituições similares. Desta forma, na maioria das vezes, a exemplo das parábolas, acreditamos que uma história, um conto ou mesmo uma crônica, tem o condão de melhorar o entendimento dos assuntos apresentados nos artigos. Em assim pensando, achamos por bem, acrescentar a colocação de uma carta deixada por um idoso logo após a sua morte. O citado idoso, hóspede de um asilo, escreveu uma carta, de momentos vividos com as enfermeiras do asilo onde morava e, papeava com elas, mais ou menos assim: “Enfermeiras, o que você vêem? O que vocês pensam quando olham para mim? Vocês acham que sou um velho rabugento, não muito inteligente, com hábitos estranhos, olhar visivelmente aborrecido e, que baba enquanto come e, não responde a nenhuma pergunta. É isso que vocês acham? É isso que vocês vêem? Então abram os olhos enfermeiras, vocês não me enxergam. Eu vou lhes dizer quem sou eu. Eu sou uma criança de 10 anos, com pai e mãe e irmãos e irmãs que se amam. Eu sou um jovem de 16 anos, com asas nos pés, cheio de sonhos de encontrar um amor em breve. Eu sou um noivo de 20 anos, com o coração em sobressaltos, penando nos votos que eu prometi que iria manter. Agora, com 25 anos, tenho meus próprios filhos e sei que preciso garantir o sustento do lar. De repente, me vejo um homem de 30 anos, meus filhos estão crescendo rapidamente, e nossa família permanece unida. Com 40 anos, meus jovens filhos cresceram e já saíram de casa. E, minha esposa está ao meu lado, não me permitindo lamentar. Com 50 anos, tenho bebês outra vez no meu colo; Eu e minha esposa aprendemos novamente a cuidar de crianças. Dias negros se abatem sobre mim, minha mulher faleceu. Eu penso no futuro e tremo de medo. E eu penso nos anos que se passaram e no amor que conheci. Eu sou um homem velho e a natureza é cruel. Há, agora dentro de mim, uma pedra onde antes morava um coração. Lembro-me das alegrias, lembro-me da dor. E, agora, vivo e amo, num eterno “replay”. Eu aceito o fato de que nada pode permanecer. Então, abram os olhos enfermeiras e vejam. Olhem mais de perto me ENXERGUEM de verdade. Eu não sou invisível”. Queridos e diletos leitores, este grito de que não sou invisível é real e traumatizante. Deus queira que em nossa caminhada final, sejamos abençoados pela gratidão, pela tolerância e, principalmente pelo amor e, que cujos doadores desses afetos e carinhos, sejam aqueles que nos amaram e, ainda amam. Que assim seja.