Fala muito…

Gozado, porém, a maioria de nós, já deve ter ouvido falar de que devemos falar menos e ouvir mais. Se fosse ao contrário, logicamente, teríamos duas bocas e, apenas um ouvido. O que de certa forma, creio, que seria uma catástrofe, tanto fonética como estética. Segundo os entendidos, falar mais do que devia, têm inúmeras conseqüências desagradáveis, tais como: quem fala muito, corre o sério risco de falar muita borracha, besteiras, ofender os outros e, principalmente tornar-se uma pessoa sumamente indigesta. O meu finado avô paterno, sempre dizia e, eu me lembro muito bem que quando ele se deparava com um falador sem compromisso, ele acrescentava a seguinte observação: “Quem fala muito dá bom dia a cavalo”. Aliás, ele acertava todas, pois, é fato devidamente comprovado que, quem fala muito, acaba dando com os burros n’água, sendo que a probabilidade de se falar asneiras é muito grande. Tanto é verdade, que tais indivíduos geralmente se metem em encrencas por ter falado aquilo que não devia sem o devido cuidado da precaução, ou seja, falou por ouvir dizer, não tem certeza. Assim é que de fato se perdemos tempo demais em falar sem a devida ação, claro será que não haverá produtividade na nossa atuação. Portanto, embora tal afirmação não deponha contra o ato em si de falar, podemos e devemos nos expressar principalmente em defesa daquilo que nos põem indignados. É bastante comum, em qualquer reunião ou encontro que se faça, principalmente naqueles espontâneos, onde a liberdade de expressão não custa nada, somos useiros e vezeiros em resolver todos os problemas como num piscar de olhos. Fazemos isto na maior simplicidade do mundo, nos esquecemos de todos os problemas ou detalhes de dificuldade que possam existir e, naturalmente ignoramos tudo, pois, é certo que é mais fácil falar do que fazer. E, neste palco singular, temos todos os discursos prontos, porém, quando a rodinha acaba, cada um caminha de volta para casa realizado por dentro. Pois, resolveram-se como se fosse num passe de mágica todos os entraves da humanidade, pode-se dormir tranqüilo no nosso mundinho confortável. Aliás, a tônica é sempre essa, pois, “ser vidraça é uma coisa e ser pedra é outra completamente diferente”, daí é muito fácil falar e criticar, mas, colocar a mão na massa é outra coisa. Portanto, normalmente quando se ouve ou se lê algo a respeito de algum feito, principalmente aqueles que envolvem a administração pública, nos tornamos os censores do mundo. E, às vezes, em questões de segundos somos ávidos com a língua para resolver as pendências ou os possíveis erros. Interessante, que pelas discussões existentes, nos tornamos ficticiamente os ases na solução de problemas, todavia, inexplicavelmente na hora da ação, alguma coisa nos faz cruzar os braços. Será que é devido a nossa covardia ou apenas a nossa insegurança, realmente não se trata nada disso, o que nos leva a ficar estáticos é, certamente, o nosso eterno comodismo. E, para não deixar por menos, outro particular que emperra as nossas possíveis ações é sem dúvida alguma a persistente atitude de sempre reclamar. Se formos perceber, a gente reclama de tudo e, quando disse tudo significa realmente tudo, sem exceção, pois, imagine uma coisa muito simples, vais perceber que dela já houve milhares de reclamações. Com relação ao falar muito, na maioria das vezes, a gente não percebe, uma vez que se está mergulhado num mar de ignorância. Pois a nossa soberba nos afoga e, indevidamente sempre estamos fazendo o papel de ser perfeito, quando na verdade não o somos. De fato, segundo a nossa ótica turva vemos todas as coisas erradas e, as tentamos corrigir somente através de discursos inoperantes, sendo que o correto seria falar menos e agir mais. Parece-nos que desde os primórdios tempos a coisa funciona mais ou menos assim, portanto, o problema de falar mais e fazer menos é sintomático e faz parte da genética humana, haja vista que já no século XVIII, o famoso escritor francês Victor Hugo acrescentou esta frase para a posteridade, a saber: “Após a filosofia, a ação é indispensável”.  Por outro lado, é deveras importante que diante das coisas erradas, mostremos a nossa indignação.  Porém, é preciso também que estejamos comprometidos com as mudanças. Pois, se estamos cientes do melhor caminho, não podemos jamais optar por simplesmente falar ao invés de descruzar os braços e colocar a mão na massa.