Elos perdidos

Dia destes, com um prazer enorme, recebi em minha casa, assim de repente, a visita de uma grande amiga, pessoa totalmente extrovertida, fala o que sente e, não tem papas na língua. Ficamos um bocado de tempo papeando eu, ela e minha Maria, foi muito divertido. E, por puro oportunismo, estou aproveitando algo do que foi dito, para partilhar com vocês, alguns pontos de vista que hoje estão completamente desatualizados. Por exemplo, estávamos falando sobre a questão das visitas nas casas dos amigos. Das quais, as espontâneas, sem maiores explicações, foram no decorrer dos anos diminuindo abruptamente e, hoje, com raríssimas exceções acontecem ou, por que não dizer, uma parte bem significativa já não acontece mais. E, quando as fazemos temos, na maioria das vezes, que telefonar antes para aquele que vai ser visitado e perguntar se a gente pode ir lá a sua casa. Ao ser destacada esta questão na nossa conversa, fiquei pensando bem sobre o assunto e, achei realmente um absurdo total ter que telefonar para amigos antes de ir visitá-los! Depois que nossa amiga se despediu e foi embora, continuei ainda muito pensativo, uma vez que tal realidade entrou em minha mente e, ficou ali coladinha me incomodando. A tal ponto que me atrevi simular uma ligação para um amigo, como se estivesse pedindo para visitá-lo em sua casa, dizendo, mais ou menos assim: “hei cara, estou com saudades de você, pois, faz algum tempo que não nos vemos e falamos e estou sentindo falta disso, eu posso ir aí te visitar!” E, nisso o meu amigo responde: “é claro amigão, pode vir, pois, eu também estou com muitas saudades de você, mas, tem um senãozinho, que é o seguinte: venha a partir das duas da tarde, pois, a noite fica mais difícil, uma vez que a partir das dezenove horas estamos assistindo as novelas e, elas se prolongam até as 21h30min horas, e depois deste horário já fica um pouco tarde não é, um abraço e estou te esperando.” Pode até parecer exagero, todavia, todos nós, certamente deve ter sabido ou vivido um caso semelhante, lamentavelmente. No entanto, tal atitude se deve muito mais pelos melindres por nós criados, os quais nos colocaram em pedestais inexistentes, retraindo cada vez mais a nossa liberdade. De tal forma, esdruxulamente vivemos no meio da multidão, mas temos sempre a sensação esquisita que estamos num deserto sozinhos e carentes de companhias e amigos. Sem querer ser saudosista, mas sendo, antigamente as casas possuíam um anexo de frente com a rua, o qual era chamado de alpendre. Era um local aconchegante onde, principalmente à noitinha após o jantar as famílias se reuniam para conversar e falar do dia a dia. Hoje, porém, só vemos muros altos, portões enormes fechados, não se vê ninguém, acabou a farra do gostoso bate papo. Aliás, hoje em muitos dos casos nem se sabe os nomes dos vizinhos. Infelizmente, o pessoal contemporâneo vive como robô, isto é, cada vez mais distante da felicidade, isto, considerando o próprio isolamento que a gente escolheu para viver. No mais, percebe-se claramente que à medida que vamos avançando nas etapas da vida, mais distante vamos ficando daquele calor humano necessário para uma sobrevivência serena, tranqüila e, mais próxima do Criador. E, por fim, acreditamos que seria de bom tamanho tentar resgatar o elo perdido entre nossos irmãos, para tanto, é essencial abrirmos as portas de nossos cantinhos, pois precisamos dos sorrisos alheios para ajudar na manutenção das caminhadas, que com certeza as mesmas tornar-se-ão mais fáceis e igualmente transponíveis. E, para começar, pergunto: alguém quer me visitar, chegue sem avisar, pois minha casa não é prisão. Espero-te de coração, vamos papear, pois, isso é muito bom. Beijos.