Desencanto.

Quando se vê alguém, boquiaberto, em sentido de completa desilusão, no mínimo deve ter ocorrido uma catástrofe em sua vida, tão violenta, que podemos dizer que houve um verdadeiro desencanto, a ponto de sua luz para com alguém deve ter se apagado. No conceito em pauta, devo estar fazendo um pouco de pressão a mais, todavia, é certo que quando a luz de alguém que amamos se apaga para nós, é realmente como se tivéssemos ficado completamente na escuridão. No caso em si, é como se conhecêssemos alguém e, de repente, todo aquele esplendor que reluzia e brilhava naquela amizade comum ou, colorida, foi totalmente embaçada por um ato que jamais poder-se-ia imaginar que fosse praticado por aquela pessoa. Mas, como o ser humano é demasiadamente volúvel, independentemente, daquilo ocorrido, pode ser ainda que, haja possibilidade do reatamento novamente daquela amizade perdida, até que se veja diante de um novo desencanto. Entrementes, diante deste vai e vem de relacionamentos estremecidos, percebemos, às vezes sim e, a maioria não, que somos muito interesseiros. Haja vista que, grande parte de nossos relacionamentos por amizades são adubados, visando apenas ter vantagens. Em outros casos mais sentimentais, como por exemplo, as mães, quais têm que aparentar externamente uma confiança, dedicação e amor infinito aos filhos. E, pesarosamente, quando os têm em decadência, sentem tudo de ruim invadir o seu malhado coração, totalmente, dolorido pelo desencanto atingido. Mas, como Deus, em sua infinita bondade, disponibilizou às mães, um coração diferente, ou seja, podem bater, podem malhar, podem aborrecer e, podem desencantar. Jamais, o coração de mãe abandonará os seus filhotes, seja qual for o tempo de longevidade da escuridão de seus corações. As mães sempre estarão de plantão esperando aquela luz brilhar novamente, não desanimam e, nem repreendem a ponto de distanciar aquele infinito amor.  As mães são acima de tudo as maiores colecionadoras de desencantos e, o mais grandioso de tudo é que fazem sempre isso com um sorriso nos lábios, iguais os da Virgem Maria. E, quanto aos cônjuges, muitos deles, após uma grande caminhada juntos, vão perceber que viveram todo este tempo juntos de uma forma totalmente displicente, foram tragados pela rotina e, o amor há muito que os deixou. Para se ter uma ideia, a luz do desencanto, também se apagou e, só lhes restou lembranças dos tempos mais glamorosos de antigamente, que jamais retornarão. O pior de tudo é que, quando, raramente, se entreolham, se assustam e um pergunta para o outro, quem é você? Que frustração, decepção e, principalmente, que desencanto, aconteceu com a gente. Interessante que essa convivência nos dá uma lembrança duma frase célebre que faz parte de um livro do saudoso Vinicius de Morais, que diz mais ou menos assim: “na relação conjugal o importante da relação é a intensidade e não a longevidade”. Caso contrário, a colheita será feita apenas de desencanto. Citamos para reforçar, como entendimento, somente estes exemplos, no entanto, é bom saber que a vida é uma mescla de coisas boas e ruins, devemos, por isso, ser sábios para conseguir discernir os caminhos que poderão nos levar a felicidade plena.

Arquimedes Neves – Nei

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