Desapego

Estava eu, aliás, como sempre, fuçando nas coisas e, ouvindo outras do cotidiano, afim de que pudesse ter inspiração suficiente para tentar blindar a todos com mais um texto interessante. Não é que deu certo, pois, num pequeno pedaço de jornal envelhecido pelo tempo, li que alguém do povo havia morrido. E, quando em vida, não parecia para as pessoas que o conheciam, ser um cidadão feliz, embora, o mesmo, tivesse sido possuidor de uma fortuna mais ou menos considerável. E, nas rodinhas do velório, a conversa mais marcante era que o dito cujo falecido, só tinha trabalhado na sua vida toda. Assim é que, por consequência, tinha juntado um capital invejável, porém, não aproveitou nada e nem nunca olhou para seu semelhante com a caridade de Deus, pois, era, irreversivelmente, muito apegado aos seus valores.   Diante desta constatação permanente, podemos todos, somente a título de curiosidade, tentar fazer um teste mental e, pensar sobre o assunto. Para tanto, cada um de nós devemos transferir o pensamento para o título do artigo, ou seja, desapego. Inclusive, para nos ajudar nesta tarefa, vamos acrescentar uma colocação popular, de autor desconhecido, que diz mais ou menos assim: “nascemos sem trazer nada, morremos sem levar nada e, neste intervalo do nascer e morrer, praticamos as maiores atrocidades para vencer, ficar rico e, até morrer por isso. Será por que?” Interessante que, ao abrirmos os olhos desta meditação nossa feita agora, não vamos encontrar a resposta desta indagação. Isto porque esta ganância de ajuntamento de bens materiais e, depois, colocá-los para a nossa adoração individual é bem milenar. Portanto, nada mais é do que um defeito crônico do ser humano esta apegação mórbida pelas coisas materiais, neste caso, em particular, com algumas exceções. Embora, o apego tenha sempre uma conotação voltada, especificamente, para o dinheiro, porém, esta fraqueza de excesso de domínio das coisas extravasa para uma infinidade de variações, tais como: casa, carro, celular, roupas, animais e etc. Também, no intuito de tornar o assunto mais acessível ao entendimento, tomo a liberdade de contar um caso real, obviamente, reservando-me o direito de não citar nomes, haja vista, que o importante para nós é a narração do fato em sim, como segue: Certa ocasião fui convidado por um amigo para ir até sua casa ajudá-lo a elaborar um relatório profissional e, quando lá cheguei fui recebido pelo próprio. Todavia, quando íamos adentrar a sua casa ele se desculpou e, pediu, gentilmente, para mim tirar os sapatos, pois, sua esposa não permitia entrar na residência calçado. Fiquei extremamente estupefato, pois, me senti naquele momento, transitando de meias por aquela casa estranha, como se fosse uma pessoa muito íntima do casal acolhedor. Sendo que aquele período de permanência naquele ambiente foi por demais constrangedor. Imaginem que esta senhora, aliás, digna de pena, uma vez que a mesma deve ser portadora de uma síndrome de limpeza, em grau de quase loucura. Desapegar na verdade é não ser escravo de nada, estar livre e disponível para o que der e vier. É aprender suportar um não sem desistir do que se acredita. É saber que é preciso enfrentar e ficar até dar a hora de ir e depois saber ir quando essa hora chegar.

Arquimedes Neves – Nei

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