Todos nós sabemos que a personalidade é um perfil congênito, isto porque a pessoa quando nasce já a adquire de imediato, isto é, nome, procedência e demais adjetivos só porque já está respirando. Por outro lado, a compaixão surge no decorrer da existência, sendo que ela está disponível na medida em que o coração estiver cheio de amor para dar. Caso contrário, o receptor do benefício ficará na dependência e na espera de qualquer outra alma boa que o possa auxiliar. Em vista disso, é fácil observar que a compaixão é um sentimento frágil e difícil de carregar, pois, depende do estado de espírito em que a pessoa se encontra. Isto é, a mesma está sujeita a chuvas e trovoadas, pois, é comum ouvir-se a expressão “já estou de saco cheio de ajudar os outros, é bom que cada um se vire” ou, “agora não posso, estou muito ocupado”. Na verdade, desculpas não faltam, portanto, a compaixão oscila conforme o coração de cada um, ou seja, se estiver cheio de amor, a compaixão floresce, caso não esteja, ela fenece. Desta forma, é muito agradável e confortador para ambas as partes quando o ato acontece. Tanto da parte daquele que tem compaixão, quanto daquele que a recebe, indistintamente, seus corações ficam inebriados de conforto e satisfação. Todavia, para aquele que a recebe, por certo, é como se fosse às próprias mãos de Deus disponibilizando o bem e, que na verdade realmente o é. Isto posto, na preocupação de dar um brilho especial ao assunto, nada mais pontual do que um conto para melhorar o entendimento. Para tanto, escolhi um belíssimo de autoria da jornalista Beth Landim, que vai de encontro com os detalhes da questão, como segue: “Numa sala de aulas, um menino de nove anos, sentado à sua carteira e, de repente sem esperar surge uma poça d’água entre os seus pés, e a parte dianteira de sua calça está molhada. O menino com o coração acelerado não pode imaginar como isso aconteceu. Jamais tinha acontecido antes e, sabe que quando a turma descobrir, nunca mais terá paz. O menino acredita que o seu coração vai parar, abaixa a cabeça e reza esta oração: Querido Deus, isto é uma emergência! Necessito de ajuda agora! Mais cinco minutos e serei um menino morto! Levanta os olhos após a oração e, vê a professora se dirigindo em sua direção mostrando uma fisionomia de quem já descobriu o ocorrido. Enquanto a professora vem se dirigindo até ele, uma colega de classe chamada Susie, caminhando também em sua direção, com um aquário cheio d’água, tropeça na professora e despeja toda água em cima de seu colo. O menino finge ficar irritado, mas ao mesmo tempo em surdina faz o seguinte agradecimento: Obrigado Senhor! Obrigado Senhor! A compaixão é maravilhosa, mas como tudo na vida tem reveses, o ridículo que deveria ter sido do menino foi transferido à outra pessoa, Susie. Finalmente no fim da aula, enquanto estão esperando o ônibus, o menino caminha em direção a Susie, lhe sussurra nos ouvidos: você fez aquilo de propósito, derramar a água do aquário no meu colo, não foi? E, Susie, carinhosamente. sussurra-lhe: eu também já molhei minha calça uma vez.” Aí está o sentido da compaixão, onde a ação é fruto puro do coração. Portanto, não tem preço, pois, o ato é feito desprovido de qualquer interesse pessoal, apenas se enxerga naquele momento a necessidade do outro. Nada mais.