Bala perdida, não, bala maldita, sim

Há alguns anos atrás, não me lembro bem, elaborei um texto com o tema de “Bala perdida”, isto, porque os acontecimentos referentes eram por demais rotineiros, principalmente, na cidade mais linda do mundo, o Rio de Janeiro. Creio que já faz um tempo considerável, todavia e, por que não dizer lamentavelmente, continua pior do que antes. Mas, o pior de tudo é que as vítimas, em maior número, são ainda as crianças. Principalmente, quando vão à escola, quando estão brincando, quando estão ajudando a família, nas esquinas daquela metrópole, vendendo guloseimas e, outras mercadorias baratas. E, sem mais e nem menos, estas pobres criaturas indefesas acabam tendo as suas vidas ceifadas ou, na pior das hipóteses tornam-se precocemente inúteis, aleijados, desequilibrados, com a vida interrompida, sem nenhuma explicação, à mercê da vontade alheia. E, tal condição, fatalmente, vai provocar e, sem nenhuma possibilidade de ser diferente, uma vez que ao passar dos dias, com o crescimento da monotonia e da dependência, somente os sentimentos ruins vão ter acomodação na mente destes infelizes. Consequentemente, a raiva, o desencanto, a sensação de abandono, a falta de credo em tudo, provoca reações constrangedoras a ponto do indivíduo chegar a calamidade de começar a não acreditar até no Senhor Criador, o que não deixa de ser, um tremendo sacrilégio. A pessoa chega a ficar cega, não sabendo nem de quem é culpa, embora, sutilmente, lá no mais recôndito dos nossos sentimentos, sabemos que o culpado somos todos nós. Em vista, desta certeza sobre quem é o réu, tomamos a liberdade de apresentar uma satirização de onde sai a bala fatal, será que foi o macaco que atirou, será que foi o leão, será que foi o elefante, será que foi o cachorro, ou, foi a zebra. Vamos parar de enumerar os animais irracionais, pois, todos sabemos que o responsável por essas ações inaceitáveis, é um animal, porém, racional, chamado ser humano ou, homem. Independente de tudo isso, é fato também que tais casos, não são produtos só nossos, o mundo inteiro está repleto destes acontecimentos. Dos quais, sabidamente, atingem somente os indefesos, os fracos e oprimidos. E, como de costume, o que nos deixa mais entristecidos é que ao invés das autoridades se preocuparem sobre um plano tático, para amenizar ou, o melhor, para tentar extinguir tais práticas. Pelo contrário, há por parte das autoridades uma preocupação em saber quem foi que atirou, foi policial ou bandido. E, dentro de um contexto global, acreditamos que descobrir de quem foi a bala maldita é uma preocupação um tanto quanto sem muita importância. Uma vez que apurar responsabilidades não levará a nada, pois, a vítima já se foi ou, já caiu em desgraça. Assim é que fica claro como as águas de um riacho imaculado, que o ser humano não tem valor nenhum, infelizmente. E, em homenagem às vítimas destas fatalidades e, respectivas famílias, doravante quando ouvirmos sobre uma bala perdida, vamos apenas pensar que aquele projétil não era perdido, pois, é sabido que das muitas ações deste tipo, não acontecem sem querer, como se é dito, elas apenas são malditas. (?).

Arquimedes Neves – Nei

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