Atribulações

Dia destes estava eu conversando com uma querida pessoa amiga minha e, o assunto como não poderia deixar de ser enveredou pelo caminho do cotidiano, obviamente falamos sobre as atribulações do dia a dia. Interessante que tirando um pouco o exagero que é bem característica da natureza humana, a maioria das coisas ditas é referente à vivência real de cada um em particular. Assim, partindo desse princípio, bailou um verdadeiro ping-pong de conversas as mais variadas possíveis sobre o dito cujo assunto. No trabalho, acontece até um descabimento total das afrições, tendo em conta que a toda ocasião estamos lutando contra a concorrência ou, senão, as turras com um chefe insaciável por resultados imediatos. Inclusive de tais atribulações em meio à correria diária liga-se a uma etapa que não se sabe se a coisa é verdadeira ou não, a gente mesmo chega a se confundir se está vivendo num mundo real ou fictício. Estamos sempre com pressa e, invariavelmente, temos algo importante para fazer e, isto nos torna sem que percebamos escravos das coisas. Sendo que o pior de tudo isso é que a medida que o período passa vamos nos sufocando cada vez mais no mar de atividades supérfluas e desnecessárias. Desta forma, assim vivendo naturalmente vamos nos afastando cada dia mais das delícias da vida, as pessoas que nos amam, por exemplo. Embora, numa época como esta de extrema velocidade de tudo, seria piegas demais falar da beleza das flores ou das maravilhas da natureza. Isto porque, estamos mergulhados nos computadores, nos celulares e em outras “proezas” eletrônicas que nos embriagam com os seus resultados imediatos, uma vez que nos atendem de pronto, pois, não temos mais prazos para esperas ingênuas e inúteis. Ora, ora, isso tudo não tem importância alguma, uma vez que o nosso objetivo principal é viver intensamente todo minuto sagrado para estar à disposição dos negócios e ganhar dinheiro. É isso o que importa. Somente a título de melhor realçar o assunto, li uma reportagem na revista Veja, onde destaca dentre outras, o excelente desempenho durante toda uma vida de um dos maiores médicos anestesista do país. Hoje com oitenta e sete anos e aposentado, o doutor Ruy Vaz Gomide do Amaral, onde conta suas memórias de trabalho dentro do complexo do hospital das Clínicas, em São Paulo. Ele destaca como final, uma frase antológica referente a sua dedicação à carreira, a saber: “Trabalhei demais. Muitas vezes dormi no hospital por falta de tempo de voltar para casa e retornar no dia seguinte. Fiquei metido em salas cirúrgicas e esqueci dos meus filhos. Não os vi crescer. Não é um arrependimento. Mas me incomoda. É uma cruz que carrego.” É um exemplo patente de que não importa quem quer que seja, pode ser ilustre ou não, em alguma hora da vida, certamente, vai bater esta constatação, ou seja, as atribulações, na maioria das vezes descontroladas, ferirá o coração em algum momento, quer queira ou quer não. De repente em dada circunstância, sentimos um leve cansaço e, a pedido da família, ou, também por receio próprio pisamos um pouco no freio, tiramos férias, mas, com o pensamento ligado ao trabalho. Tanto é verdade que nos afastamos, porém, levamos a tiracolo uns três celulares, com respectivos carregadores, para agüentar a ausência por pelo menos uns quinze dias. Não descansamos e nem nos desligamos das ocupações, apenas as camuflamos em ausências enganosas, pois o fato é que estivemos presentes a todo instante. Mas, como o corpo não é máquina, certamente, gritará por socorro e, então adoecemos. Aí não vai ter mais jeito, com certeza, nestas condições vamos ter bastante disponibilidade para pensar se realmente valeu a pena à correria. E, o mais desastroso de tudo é que se vai perceber que Deus também ficou esquecido, não houve tempo para conversar com Ele e, isso não é bom. Todavia, o Criador em sua infinita bondade não nos vira as costas e nem se afasta da gente, como se pode perceber somos nós que nos afastamos Dele. No entanto, a reconciliação é simples, basta querer, pois Jesus está sempre de braços abertos para nos receber, haja vista, que quando morreu na cruz para remir os nossos pecados o fez de braços abertos. Em seguida, na plenitude de sua ressurreição, Ele, está nos esperando sempre. Por isso, no espaço correspondente ao nosso tempo de correria, além de todos os malefícios que acumulamos, o mais doloroso foi, exatamente, o divórcio das graças e das plenitudes de Deus. É, precisamente, neste período, particularmente divino, que perdemos mais. Infelizmente.