Oportunidades perdidas

Interessante que a maioria de nós tem como chavão de vida não ter tempo para nada. E, isso é tão presente que realmente deixamos escapar, às vezes, sem se aperceber que muitas coisas que poderiam ser importantes, acabam se diluindo na correria de nossa pressa infinita e, sem razão. A saber, existe uma quantidade ilimitada de casos de pessoas já no fim da existência, ou mesmo, antes dela, se viram carregadinhas de arrependimentos por terem deixado de fazer determinadas coisas devido à ótica errada da falta de tempo. Como já dito anteriormente, em meados de junho/13, infelizmente por motivos de saúde precisei ficar hospedado em um hospital por duas semanas. Foi quando com todo o tempo disponível do mundo naquele quarto sombrio, me vi algemado as mãos e os pés, uma vez que tinha o tempo, mas, não tinha as condições para fazer absolutamente nada. Concebível como a vida nos reserva surpresas incríveis. E, vagueando a mente sobre isso me lembrei de uma história que me trouxe uma realidade que a gente só observa mediante uma grande parada, obrigatória ou espontânea. A história contava um seriado vivido entre uma mãe solitária e um filho arredio que queria vencer longe dos braços afetivos da mãe, viver uma vida livre sem olhares interrogativos, enfim queria ser o tal por si mesmo. O conto era mais ou menos assim: “Um jovem cheio de entusiasmo, achando-se dono de seu nariz, deixa a mãe e parte para lugares distantes, tentar a vida. Daí em diante, a comunicação entre mãe e filho era feita somente através de cartas. A mãe escrevia-lhe com freqüência e, ele de vez em quando. À medida que o tempo passava a afetividade dele para com ela foi ficando cada vez mais fria. Tão fria que já nem lia mais as cartas da genitora. Os anos foram passando. Ele já não lembrava até mesmo da feição da mãe. Esta mesmo com a idade avançada, perseverava com as cartas ao filho, todavia nunca recebia resposta. Quando sentiu que iria para junto de Deus, sem ver o filho que tanto amava, pediu a alguém que a assistia para comunicar-se com o filho, implorando-lhe a presença urgente, uma vez que sua mãe agonizava. Ele, friamente disse que iria pensar. Mas, o laço divino que une mãe e filho fez aflorar fortes recordações, tão fortes que o levou a viajar imediatamente para junto daquela que o concebera. Ao chegar à beira do leito, ela, sorrindo abriu os braços e pediu-lhe para que encostasse seu peito no dela para poder abraçá-lo com ternura e muito amor. Além, é claro de sentir os dois corações palpitando juntos, como queria. Após o abraço que esperava há décadas, inicia-se o seguinte diálogo: filho, você leu a última carta que lhe enviei? O silêncio foi a resposta. Ela continua, naquela carta eu lhe contei um linda história de amor. Dei-lhe o mapa da mina para seu sucesso conjugal, espiritual e material. Novo silêncio. De repente, começou a sentir grande ansiedade e curiosidade, no entanto, como não havia lido a referida carta, não teve coragem de perguntar a ela qual era a história de amor e, tão pouco, pedir a ela que lhe contasse pessoalmente. Após a conversa, a mãe, feliz, expirou. E, o filho diante daquele quadro, suspirou e disse: E, agora? Que posso fazer se joguei todas as cartas no lixo?” Curioso que todos nós sem exceção num determinado ponto de nossas vidas fazemos um balanço de como estamos e quem somos. Certamente muitas perguntas serão feitas, umas com respostas, outras sem, muitas lamentações dos fracassos e, muitas alegrias dos sucessos. E, como não poderia deixar de ser, lá no cantinho do subconsciente está alojada aquela dúvida atroz de quantas oportunidades perdidas tivemos nesta caminhada. E, logicamente, aquelas indagações passadas ainda remoem o nosso consciente, se perguntando: Devia ter estudado mais, procurado profissões melhores? Devia ter ajudado mais os meus pais? Devia ter amparado mais os meus filhos? Devia ter me esforçado mais, havia condições para isso? Onde estou agora, o que posso fazer ainda? Agora, uma coisa é cristalinamente certa, todos nós, indistintamente, deixamos algumas oportunidades escaparem pelos vãos de nossos dedos, infelizmente.