No velho dicionário, do já falecido Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, explicita claramente o significado da palavra migalha como sendo, sobras, restos, coisas insignificantes. Portanto, podemos considerar como os fragmentos deixados nas toalhas do café da manhã, onde sobram restos de bolo, pão e algumas coisas mais sólidas que se esfarelam. Trocando em miúdos podemos dizer que migalha é o nada do nada. Mas, foi justamente pensando nisso que me lembrei que recentemente saiu publicado nos jornais do país, os desperdícios de alimentos encontrados nas mesas dos povos do mundo inteiro. Cujos desperdícios, de certa forma, recebem a mesma tratativa dada às migalhas, portanto, também são considerados o nada do nada. E, tomado de uma tristeza profunda, imaginei de olhos fechados, o quanto se desperdiça sem o menor constrangimento aquilo que poderia alimentar muitos e muitos irmãos. De dados recolhidos do IBGE, nos mostra números assustadores do desperdício, sendo que no mundo todo aproximadamente 1/3 dos alimentos produzidos tem como destino o lixo. E, no Brasil que é o país considerado como o 4º produtor de alimentos do universo, produz mais ou menos 25,7% a mais do que consome. Assim, é de todo interessante que façamos uma revisão de costumes. Aliás, há de se pensar que é inadmissível saber que muitos e, segundo estatísticas de órgãos afins, somente no Brasil de norte a sul, mais ou menos 26 milhões de pessoas ao fim da tarde não tem nada para colocar no seu prato de comida. É sabido que a, maioria absoluta, das pessoas que nunca teve na vida este tipo de problema pode achar graça que possa existir alguém, por mais pobre que seja que não possa ter um prato de comida para comer. Ademais, até pode parecer mesmo engraçado porque, muitas das vezes, a gente que está dentro da fartura, não nos passa pela cabeça que alguém possa estar com fome, precisando de comida. Outra coisa fantástica que nós ignoramos, muitas das vezes, propositadamente, é que uma simples mudança de atitude, ou seja, evitar desperdício de alimentos, possa fazer a diferença para muitos irmãos. E, só a título de comparação, podemos acrescentar a esse fato a historinha popular das conchinhas, como segue: “Um menino litorâneo, passeava descontraidamente pelas areias de uma praia deserta e, conscientemente ia pegando as conchinhas espalhadas pelo seu trajeto e, as jogava de volta ao mar. Neste gesto abnegado, um estranho, vendo aquilo que o menino fazia, retrucou: hei garoto, o que você está fazendo não vai fazer diferença, olha ao seu redor está ficando ainda para trás um número sem fim de conchinhas que não foram devolvidas ao mar. O menino levanta os olhos ao estranho e, com ar de quem sabia o que estava fazendo, respondeu: Olha moço, para estas que ficaram abandonadas na praia, pode não fazer diferença, porém, para aquelas que consegui devolver ao mar, com certeza, fará muita diferença. O homem, ao ouvir aquela resposta, ficou estático e boquiaberto, pois, para as conchinhas contempladas com retorno ao mar, certamente, a diferença já aconteceu.” Daí, amados leitores, mesmo que nossa mudança de atitude para não desperdiçar alimentos, favoreça apenas a uma pessoa, já é o suficiente para a glória do Senhor. Amém.