Não se comprometa, fale menos.

Nas minhas lembranças de outrora, passa-me pela cabeça a figura tranquila e inocente do meu querido pai, já há muito tempo falecido. Que por sinal, embora não tivesse tido ensinamentos adequados e completos, no que diz respeito à educação escolar, surpreendente, tinha um conhecimento acima da média daquela época.  Em consideração a este particular, lembro-me bem que o mesmo gostava e usava muito em cada de suas conversas, um ditado popular. Afim, de reforçar as suas opiniões, em vista disso, ele tinha um ditado popular que mais gostava e, que dizia: “Não se comprometa, fale menos”. Portanto, o seu Paulino, nome de meu pai, ficava sempre “p” da vida, quando uma pessoa qualquer sem o mínimo de polidez falava mais que o necessário. e, na maioria das vezes sem conhecer o assunto que estava falando. Isso causava em meu pai uma verdadeira ebulição de urticária, deixando grande parte de seu corpo todo alérgico. Interessante, que quando usava tal ditado, meu pai, também gostava de citar um ensinamento bíblico, do próprio Cristo, por quando da criação do homem, O fez com uma só boca e, dois ouvidos. Isto porque, Ele queria que ouvíssemos mais e, falássemos menos. No entanto, como a humanidade é sempre às avessas, entendeu tudo ao contrário, ou seja, falamos mais e ouvimos menos. E, para piorar mais a nossa decepção, atualmente, as coisas estão muito piores, neste aspecto pois, estamos destruindo quase tudo com a nossa boca faladeira. Uma vez que falamos demasiadamente sobre qualquer coisa, não poupamos nada e, pasmem, ficamos muito mais profissionais nesta matéria, damos, graciosamente, até aulas de fofocas, existem muitos especialistas nisto. Interessante que quando vemos ou sabemos de algum fato, ficamos com uma tremenda coceira na língua e enquanto não passamos para frente não sossegamos e, o pior de tudo é que na maioria das vezes deturpamos tudo aquilo que vimos ou ouvimos. Muitas das vezes essas incoerências fazem muito mal, haja vista que devido às fofocas infundadas, há o surgimento de sérias feridas com consequências danosas. Existem casos em casamentos são desmanchados, famílias esfaceladas, amizades interrompidas, empregos desarrumados, enfim tudo devido à maldita língua que de tão ferina, muita das vezes não cabe dentro da própria boca. A gente discute tudo com todos, às vezes, discutimos medicina com o médico discutimos matemática com o professor, discutimos a vida com os idosos, tudo pelo velho hábito de falar mais e ouvir menos. Por essas atitudes ridículas, quantas vezes “caímos do cavalo” e, protegidos pelo manto de nossa eterna ignorância, não aprendemos nada, continuamos “mané”, “sem eira e nem beira”. O pior de tudo, isto é, quando nos metemos a besta e fazemos comentários irresponsáveis sobre alguma atitude de alguém. Sem pelo menos conhecer a pessoa, sua intimidade, ou, o porquê ela fez aquilo, nada disso nos importa, o que queremos mesmo é falar e, ponto final. Gozado que quando falamos dos outros, nos colocamos em um pedestal como se fôssemos infalíveis. É como se já estivéssemos com a pedra na mão, contrariando as orientações de Cristo, que disse a respeito: “quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra”. Não sei por que, mas parece que a gente se sente bem quando usamos, indiscriminadamente, o dom da fala e, ao mesmo tempo nos sentimos mal quando temos que ouvir, parece um martírio. De qualquer forma vamos sonhar e pensar, como seria gostoso se o mundo fosse mais silencioso, ou seja, se o ditado: “ não se comprometa, fale menos”. Fosse lema mundial. Acorda pessoal.

Arquimedes Neves – Nei

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