Na verdade, não deixa de ser uma indagação curiosa, pois, fato é que se tem, sem dúvida alguma, um relacionamento muito próximo de saber quem somos afinal. Não seria um pensamento sobre a árvore genealógica de cada um, mas apenas a nossa caminhada. De fato, podemos garantir que é muito interessante essa viagem de volta. A gente consegue buscar pelo caminho muitas recordações, muitas alegrias, muitas dificuldades de nossos pais. Na luta pela sobrevivência da família, de pessoas queridas que já se foram e outras que aí estão ainda e, que às vezes não representam muito para nós e, vice-versa. Pois, sepultaram o passado e se esqueceram de suas origens, das amizades e dos tempos de inocência, lamentavelmente. Nesta volta ao passado vi a turminha das “peladas”, ou seja, do futebolzinho jogado descalço e no meio dos carrapichos “espinhos, sujeiras restantes das roçadas, anteriormente, feitas antes dos treinos. Quanto a denominação de peladas, antigamente, não precisaria explicar pois, todo mundo sabia que pelada era o futebolzinho da molecada, mas, como hoje as coisas são sempre compreendidas, maliciosamente, por isso, achei melhor explicar. E, continuando, vi a turma do futebolzinho, com muitas saudades e com os olhos umedecidos, pois muitos deles já estão jogando no time do andar de cima, já se foram para o a além. E, neste retorno consegui chegar ao tempo do grupo escolar, lá estavam todos aqueles que compuseram a minha existência. E, muitos deles já se foram também, outros estão por aí, alguns conseguiram ter sucesso na vida. No entanto, o que de certa forma me deixa encabulado é que éramos todos iguais. Classe média baixa, uns mais outros menos, mas, não variava muito, aliás, a gente não dava muita importância para isso. Hoje, alguns mais favorecidos pela sorte ou, por serem mais inteligentes, se destacaram e não se lembram mais de suas origens, infelizmente. Me lembrei, agora, também um pouco entristecido, de uma passagem muito interessante que aconteceu comigo. Tínhamos um amigo da turma da época, que foi embora para um centro maior, afim de estudar medicina e, foi morar com uma tia, para poder fazer o curso. Depois, de alguns anos, já formado em medicina, voltou, novamente, para residir aqui, na nossa querida cidade e, também para desenvolver a sua profissão de médico. Quando nos encontramos fiquei muito feliz e, o chamei pelo nome, tentando dar-lhe um abraço, para meu maior espanto, o colega e amigo, me afastou com as mãos e, disse: “olha agora sou médico e, quero que me chame de doutor. ” Naquele momento foi como se eu tivesse recebido em minha cabeça, um balde cheio de água gelada. Isto porque, naquele exato momento, desmoronou uma amizade sólida e de raízes profundas, formada na inocência da infância e da adolescência. Infelizmente, o sucesso subiu na cabeça de meu ex-amigo, e ele esqueceu=se completamente de suas origens. Desta forma, queridos leitores (as), se cada um de nós for rebuscar na memória, provavelmente, poderá encontrar um episódio desagradável igual a este narrado. Onde, por motivos ignorados, alguns passam uma esponja de limpeza no passado, não se sabe se por vergonha de sua existência humilde ou, por outros valores quaisquer. Embora, seja fato realmente, pode-se afirmar com certeza absoluta, que um passado feliz cheio de amizades inocentes, produzirão num futuro, não muito distante, bons frutos. Principalmente, na formação de um caráter, digno de um cidadão honesto e trabalhador. Mas, inobstante, tudo isso, alguns se esqueceram, propositadamente, de suas raízes, infelizmente.
Arquimedes Neves – Nei
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