Dádivas e melancolias

É bem possível que, quase todos nós, sem exceção, se prendemos em momentos solenes de puras dádivas e melancolias. Sentimentos estes que em outras interpretações podem ser classificados como lembranças e saudades. E, num desses momentos de puro êxtase, a gente se perde em sonhos e lembranças, cujas quais, muitas delas, nos fazem viajar no passado e, se deliciar daqueles momentos sublimes daquelas épocas de nossas vidas. O que, por sinal, é uma verdadeira delícia. Uma vez que você se lembra de lugares, de pessoas amadas que muitas, das vezes, já se foram e, agora se encontram guardadas em nossos corações, com carinho e amor. Lembram-se de amigos, parentes, de namoradas, cujas épocas são remotíssimas e, que jamais voltarão. Enfim, é possível afirmar, não existir ninguém, que não tenha tido, pelo menos, uma pequena lembrança para recordar, impossível não ter. E, por falar nisso, dia deste, por um acaso mágico, achei em meus guardados de antigamente, uma lista totalmente amarelecida pelo tempo, era de 1.954, do 4º ano primário. Gente o meu coração disparou de alegria ao deparar com aqueles nomes queridos de colegas da escola. Acreditem, os meus olhos se umedeceram, uma vez que o meu coração sentiu o baque das dádivas e melancolias reavivadas naquele momento, é como se eu estivesse lá outra vez. Além da dádiva imperiosa que me dominou e, como não poderia deixar de ser, a melancolia se fez presente, pois, muitos daqueles nomes já tinham ido morar no céu. E, para enriquecer ainda mais este texto, de relance, me lembrei, das famosas caixas de sapatos vazias, cujas quais, a maioria das famílias, que as tinham, as ocupavam para guardar papéis ou fotografias antigas. Com o intuito, exclusivo, de acomodar as velhas fotografias do passado, na pura intenção de garantir as lembranças futuras de um passado glorioso. Daí, também eu, aproveitei o ensejo do momento e, agarrei a minha caixa de sapatos vazia, contendo fotos antigas e, no desfile visual fui vendo aquelas velhas imagens, muitas delas, sem nenhuma anotação no verso. Afora este detalhe, que por sorte, não me impossibilitou de rever através delas muitas figuras importantes, as quais, com certeza, fizeram também parte de minha existência. E, por fim, lá bem no fundão deste baú improvisado (caixa de sapatos), por uma sorte incrível encontrei uma foto antiga do meu querido velho pai, já falecido, onde vi ainda perpetuado aquele sorriso fácil, sempre nos dizendo que a vida era boa, apenas, bastava vivê-la não se preocupando com a morte. Quantas saudades ainda sinto dele, infelizmente, a gente, às vezes, só sente isso após as suas partidas. De repente, me vendo muito saudosista, misturando alegria com tristeza, recolhi todas as fotos esparramadas e, as recoloquei, bruscamente, dentro do improvisado baú. Respirei fundo, agradecendo ao alto, pelos momentos saudosos, porém, gostosos e, me veio a mente, um ditado popular muito expressado na época que dizia mais ou menos assim: “ninguém, vai ficar para semente”. Respeitosamente, me atrevi a trazer à tona tais momentos, apenas como dádivas e melancolias próprias, uma vez que estamos em épocas, literalmente, diferentes. Vivemos atualmente o desenvolvimento desenfreado do modernismo ou, melhor, da tecnologia avançada, onde tudo é muito mais materialista. Provocando, impiedosamente, o sepultamento do passado, deixando-nos apenas as marcas indeléveis das saudades. Portanto, queridos leitores, ouso, aproveitando da amizade que nos une, convidá-los a promoverem uma viagem ao passado, após a leitura deste texto. Fechem os olhos e mergulhem nas relíquias guardadas em suas respectivas caixas de sapatos, as quais, certamente, os enviarão para lugares lindos e maravilhosos. Façam isso, pois, esta viagem pode ser aquele empurrãozinho de ânimo de que, às vezes, estejamos precisando hoje, quem sabe! Felicidades para todos.

Arquimedes Neves – Nei

www.neineves.com.br