Não se iluda.

É, bastante comum ouvirmos nas rodinhas de bate papo ou, em quaisquer outros lugares, que tenham gente reunida, jogando conversa fora, a expressão de quem está de bem com a vida, mais ou menos assim: “me sinto como se fosse um adolescente de dezessete anos”. De fato, em muitas ocasiões desta natureza, a gente fica na retaguarda, uma vez que, não se sabe se o autor da frase, falou em forma de piada ou brincadeira, ou, se é mesmo que o dito cujo está se sentindo nas mil maravilhas. Considerando também que a maioria das pessoas que usam tal expressão já estão com o calendário adiantado, ou seja, já passam dos cinquenta anos. Daí, é que acreditamos que os cinquentões já se encontram, no mínimo, no segundo tempo da vida e, nestas circunstâncias é óbvio que o corpo já mostra sinais de desgastes e, o mesmo, inexoravelmente, já começa a ficar cansando. Embora, muitos, certamente, não saibam, mas, a mente humana sofre um desgaste bem mais lento do que o corpo. Em vista disso, muitas pessoas se enganam, pois, consideram que têm uma mente relativamente arejada e, que o mesmo acontece com o corpo, ledo engano. Pois, por mais que queira, o corpo não consegue acompanhar os reflexos da mente. Em assim sendo, os “coroas”, vão necessariamente precisando dos cuidados de manutenção através de medicação, inclusive, com visitas aos facultativos da saúde. É bem comum, vermos pessoas que apelam por toda forma de recursos, para fugir da velhice aparente usando, para tanto, todos os subterfúgios possíveis e imagináveis, tais como: maquiagens excessivas e, até às vezes, cirurgias restauradoras. De certa maneira, até aí cremos que tudo bem, haja vista, que muitas pessoas que usam tais expedientes, para melhorar as aparências, se sentem melhores. Uma vez que se sentem também com o ego completamente massageado, dando-lhes alegria interior e, isso, não deixa de ser bom. Porém, aliás, sempre há um, porém, pois, o risco que se corre é de se iludir e, se isto ocorrer, a vaidade acumulada pode ferir e magoar intensamente. Acontece que, a pessoa vivendo esta figura imaginária, sem se aperceber, pode começar a fazer um papel ridículo perante aos outros. Mas, por outro lado, é bom citar que existem pessoas de mentes claras, atitudes definidas e pés no chão, que encaram a vida como realmente ela é, e usam todas as armas disponíveis, não se intimidam e vão à luta. Dentro desta filosofia de vida, me veio à mente a história do “ite”, que na verdade, acredito que a maioria dos meus leitores que estiverem lendo, certamente, não conhecem o referido conto e, considerando o dito pelo não dito, vamos lá, como segue: “Dia destes, de repente me surge a minha frente, um querido amigo que há muito tempo não via e, me alegrei muito pelo encontro, nos cumprimentamos e, perguntei como ia indo. O mesmo que é um “cara” bom caráter, gente fina, me disse que estava bem, embora, já estivesse entrando na turma do “ite”. E, eu surpreso, sem saber que turma era aquela que meu amigo estava falando, lhe perguntei: oi amigo, que turma é essa? Ele com um largo sorriso, me disse que dias atrás, levantou-se com um pouquinho de dor de cabeça impertinente que não passava e, por imposição da patroa, foi ao médico. O doutor depois de examiná-lo bem, laconicamente, afirmou que ele estava com “sinusite”. Num outro dia a frente, uma dorzinha no ombro esquerdo começou a incomodar e, acabei indo de novo ao médico, onde foi constatado que eu estava com “bursite”. Todavia, meu amigo disse que o pior ainda estava por vir, pois, não se sabe de onde veio, surgiu nas juntas uma dor aguda que deixou as articulações todas comprometidas, dificultando até o movimento das pernas e dos braços. Sem outra alternativa, foi visitar novamente o ortopedista e, raio X daqui e ressonância dali, após alguns resultados, o médico constatou que eu estava com “artrite”. Assim, caro amigo, me disse ele, esta é realmente a turma do “ite” e, não tem choro nem vela, todos vamos para lá é, só uma questão de tempo. E, antes de nos despedirmos ele olhou bem dentro de meus olhos e disse: amigo, uma coisa te digo, que em hipótese alguma vou dizer a frase “me sinto como se tivesse dezessete anos”. Pois, não quero que nesta altura do campeonato da vida ser reconhecido como um “Pinóquio”, ou seja, um mentiroso de marca maior. Tchau. ”

Arquimedes Neves – Nei

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